Renúncia "profética" de Bento XVI deverá ser seguida pelos próximos, refere Vítor Melícias

O Padre Vítor Melícias saudou hoje a "profética" decisão de Bento XVI, sublinhando que a resignação deverá ser equacionada pelos próximos papas enquanto estão fisicamente capazes, já que esta é uma das funções "mais exigentes do mundo".
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O presidente da União das Misericórdias Portuguesas (UMP) contou à Lusa que foi "apanhado de surpresa" com o anúncio do Papa Bento XVI de resignar a partir dia 28 de fevereiro, devido à idade avançada.

"Não estava minimamente à espera, embora considere uma atitude corajosa, lúcida e de certo modo profética deste Papa, uma vez que, na história, tinha havido apenas um caso", disse em declarações à Lusa, o padre Vítor Melícias.

Para o responsável português, este caso de renúncia "inédito e inesperado" é "extremamente positivo", já que "valoriza a função de Papa enquanto ministério e serviço, independentemente da pessoa que esteja a ser titular".

Vitor Melícia acredita que a atitude de Ratzinger poderá traçar "novos caminhos para o futuro", ao tornar mais vulgar o abandono do cargo por parte dos responsáveis da igreja.

Recordou os últimos tempos do papado de João Paulo II, para explicar que a decisão de os papas renunciarem ao cargo já tinha sido equacionada: "Já tínhamos sido todos confrontados com esta possibilidade durante a doença da parte final do grande Papa João Paulo II. As pessoas interrogavam-se se não seria mais positivo o Papa renunciar", recordou, considerando que a decisão de Ratzinger vem "valorizar o serviço" e mostrar que esta função, que é "das mais exigentes do mundo", deve ser assumida enquanto não houver "limitações de idade, de saúde, ou situações concretas".

"É de louvar esta capacidade profética de um homem que se mostrou uma vez mais inteligente, determinado e consciente da realidade das coisas", sublinhou Vítor Melícias, comparando o pontificado de João Paulo II, que se impôs "pela sua capacidade de comunicador e de grande determinação", ao de Raztinger que se impôs "pela sua inteligência e conhecimento de teólogo".

Sobre a eventual escolha de um Papa Português, Vítor Melícias disse que "tudo é possível", basta ser Cardeal e ter menos de 80 anos.

Para o presidente da União das Misericórdias Portuguesas, agora poderia ser escolhido para presidente das igrejas universais um homem de Africa, América Latina ou Asia. "Não é a Europa e Roma apenas que podem ser fontes de onde surjam os papas".

O papa Bento XVI, 85 anos, anunciou hoje, durante um consistório no Vaticano, a sua resignação a partir dia 28 de fevereiro devido "à idade avançada".

Um novo papa será escolhido até à Páscoa, a 31 de março, disse o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, anunciando que um conclave deve ser organizado entre 15 e 20 dias após a resignação do pontífice.

O último chefe da Igreja Católica a renunciar foi Gregório XII, no século XV (1406-1415).

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